Estavamos nós ali, perante aquelas cores e odores. Eu, ela, e a bicicleta. Mas de primeiro momento, interessei-me repentinamente por aquele caderno onde ela anotava as coisas tão compenetradamente. - Nele eu posso escrever sobre meus ideais pra que eu nunca caia na rotina, mesmo impedida de fazer o que quero - Disse ela, sobre o caderno.
E me falava com a boca cheia de vigor sobre seus ideais de liberdade e igualdade, sobre sua sociedade ideal e perfeita, sobre uma utopia que pairava sobre seus sonhos, sendo até utópica demais para os próprios sonhos. E aquilo transpassava meu coração como se eu tivesse cansado de ouvir sobre isso, e por mais cansado que talvez eu estivesse, menos sentido fazia já que foi a primeira pessoa que me falava sobre o assunto. Talvez após ver o jeito como as pessoas exercem sua presença na sociedade eu tenha perdido qualquer chance de desenvolver uma utopia no meu coração. E talvez mesmo cansando-me, sejam suas utopias que mais tenham me atraído.
Após muito conversarmos sobre tudo, ela decidiu perguntar meu nome. E eu me sentia na obrigação de respondê-la. Envergonhado, abaixei-meu rosto ruborizado - Não tenho, ou não me deram. - E ela, com o mais sereno de seus sorrisos - Ótimo, assim sendo me dá liberdade para escolher-le um.
Estavamos debaixo de uma macieira, e com toda sua naturalidade ela levantou e colheu uma, me dizendo:
- Teu rosto está vermelho, como está maçã, símbolo do pecado. Te chamarei de Peccato.
Peccato.
Esse nome ecoou na minha cabeça como se fosse uma engrenagem que faltava pra um grande relógio.
Ela sentou, e falou que só nos envergonhamos quando cometemos algo de errado, e que por isso ela teria escolhido esse nome. E de certa forma eu me sentia mal mesmo, não me sentia bem quando pensava que estava atraído por ela, ela era demais pra um cara que até à pouco não tinha vestes nem nome. E então, recolhendo seus pertences, e sentando em sua bicicleta ela disse - Peccato, estou indo embora. Qualquer dia, nos vemos por aí. Costumo vir sempre aqui. - e antes que partisse - Me deu um nome mas não me disse o seu!
- Meu nome é Sophie.
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