Eu passava pelas ruas e via as pessoas se espantarem com a minha presença. As crianças, inocentes, que se aproximavam, sempre eram reprimidas à chegar perto pelos seus pais castradores e preocupados em manter a reputação de suas crias. Os pequenos, olhavam como uma réplica, querendo dizer "Por quê, o que há de mal nele?". Sabia muito bem disso, afinal, eu também queria saber. Talvez minha aparência e etiqueta não correspondesse aos bons e velhos hábitos que um garoto da minha idade deveria seguir. Ou, ainda mais, talvez eu fosse disforme e não tivesse percebido até o momento. Mas era tão ruim ser discriminado e marginalizado assim.
Após muito andar sob o brilho das luzes de prédios e placas anunciando diversão enlatada e em série, eu encontrei uma ponte. Calma, sem muito tráfego, abaixo dela havia um canto escuro e aparentemente vazio, apavorante, mas apropriado. Desci com cuidado por um monte de terra, e encontrei um grupo de crianças também mal trajadas e sujas. Não me aproximei, decidi ficar no meu lugar e descansar por que a noite já chegara. Mas elas à fizeram, eram em torno de oito, e formaram uma roda ao meu redor. Curiosas, perguntavam de onde vim, para onde eu iria, por que estava ali. Não havia outra resposta senão "não sei".
Essas crianças eram tão puras e inocentes quanto as outras bem trajadas e castradas. Mas elas tiveram impostas sua liberdade e foram marginalizadas, como eu. Mas elas simplesmente não se importavam, aquilo tudo parecia não atingí-las. Era como se a inocência fosse um casulo que enquanto você não conhece as coisas do mundo você é protegido delas. Mas eu, já conhecia o desprezo, a raiva, o medo.
E parecia que a inocência já decidira não me proteger mais...
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2 comentários:
Pior que estar à margem é lidar com a indiferença..Tal sentimento que impõe superioridade e repugnação por parte da "sociedade" em relação àqueles que nada podem fazer para se incluir nela.
Olhares estranhos, perguntas de indiferença...
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