segunda-feira, 29 de junho de 2009

O último ato de coadjuvante, III

Subi na copa de uma árvore então, próxima a onde aconteceria as explosões de fumaça que tiravam os presos de sua paz. E eu observava cada um, feliz correndo para um mundo onde por mais que sua paz estivesse em risco, ele teria livre arbítrio. Mas, eles não pareciam se importar. De longe, aquele homem olhou para mim e sorriu. E me pareceu que eu não tive um motivo para sorrir por toda a minha vida.
Me senti mal, caminhei por alguns metros e encontrei uma rua que parecia abandonada. Nela haviam algumas casas destruídas, e mais ao final, um grande muro, com um imenso portão e uma cruz branca em cima.
Ao entrar lá, eu via várias placas, umas com nomes de pessoas e datas, outras com apenas datas e indicando "Indigente", ou "Natimorto". De certa forma, aquele lugar era mórbido e pacifíco. Tinha um ar de berço que acolhe sem diferenciar ninguém. Num canto onde havia placa nenhuma, próxima a uma àrvore verde que ali brotava, repousei. Dormi como quem espera por algum tempo de sono à dias.

E então eu sonhei. Sonhei que tinha uma moça que me abraçava, e que falava gentilmente aos meus ouvidos. E que ela era tão sorridente de um jeito que sua felicidade aquecia a alma só de olhar. Enquanto isso, seus olhos eram fulminantes e causavam as mais diversas vontades no meu corpo.

Acordei desesperado.
Era dia. E eu nem vi a noite chegar.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Conte-me sobre as pessoas, II

Porém, apesar da luz não cegar-me mais, ela ainda era incompreensível aos meus olhos. Um brilho que queima de tão intenso pairando no alto junto com uma meia dúzia de coisas disformes tão pálidas quanto minha pele inocente. Algumas delas começaram a escurecer como se minha presença ali as ofendessem. Um vento forte soprava, e eu com a apenas uma camisa que cobria até a altura das coxas toda encardida. Eu nunca reparava nessa imundisse minha. Dentro do nosso quarto era escuro demais para que eu pudesse notar qualquer coisa, e quando eu saia para visitar o resto do prédio de tão feliz que eu ficava, os olhos se tornavam incapazes de focar em mim mesmo. E o ventro soprava. E por mais que aquilo no alto ainda brilhasse, eu sentia frio. E então, aqueles seres enfurecidos do céu desabaram em prantos. Caia no meu rosto e tudo escorria como se fossem minhas lágrimas. Não eram minhas, mas eu me sentia verdadeiramente triste.
A primeira coisa que me ocorreu, foi que eu sentia falta daquela lugar aconchegante que eu vivi por sei lá quantos anos. Uma paz tão grande, eu não tinha preocupações, tinha moradia, comida, e o meu feliz entretenimento. Não tinha aqueles bons homens para cuidar de mim, e agora eles que sempre pensaram no meu bem devem sentir raiva por tê-los abandonado. E tudo remetia a culpa de uma só personagem. Olhei para aquele homem que explodira a parede de meu quarto. Fitei ele com horrores que poderia causá-lo na minha cabeça. E ele permanecia sentado encostado à uma árvore. Parecia que ele me olhava não nos olhos, mas por dentro deles.

- A liberdade custou seu comodismo garoto. - Dizia ele.
- Quando eu a quiser, eu te comunico. - Respondi a ele pensando que ele se arrependeria.
- Ok, agora que você a tem você é livre pra decidir voltar.

Aquilo gerou um impacto sobre a minha cabeça. Eu perdi o equilíbrio e cai. Nunca tinha tomado uma decisão antes. Não havia por quê. E então, levantando ele disse:

- Tudo que você escolher, você pagará por isso. Se você acha que é mais fácil viver acorrentado ao pescoço por que não sabe onde ir, ótimo. Agora, deixe-me ir que existem outras pessoas que ainda clamam por ver as cores que não sejam cinzentas.

Ele me abandonou ali. Eu tinha apenas uma veste mal cuidada que não era mais o bastante para me aquecer. Eu não tinha nada à perder. Decidi segui-lo para ver o que ele faria.

Mal sabia eu, que o peso da liberdade era o que nos fazia voar...

terça-feira, 16 de junho de 2009

Uma história que cabe em nós, I.

Desde que eu me lembro eu estive aprisionado - eu ouvia os presos das celas vizinhas sempre reclamarem da podridão daquele lugar, mas de alguma forma, me parecia confortante. Sempre duas vezes um senhor de mãos grandes depositava um prato de comida delicioso por debaixo da porta - as vezes caia alguma sujeira como mofo, nada que eu não pudesse retirar com as mãos; Esse senhor parecia ser muito agradável. Ele sempre vinha berrando para avisar que a comida estava chegando, afinal, quem não levantasse a portinhola ficaria sem. Eu nunca esquecia, afinal, aquele senhor gentil sempre me avisava. Eu não sei o que seria de mim sem ele pra me avisar - Eu sentia muita falta daquele prato delicioso.
Num período de alguns dias, os bons homens que cuidavam de nós costumavam nos liberar para fazermos um passeio pelo prédio. Ah, e como era imenso aquele lugar! Mal sabia eu por onde andar, tanta coisa pra ver! Uma luz brilhante que eu não indentificava evadia o lugar pelas janelas e me cegava - Os bons homens nos colocavam nos nossos quartos escuros para proteger nossos olhos indefesos. E era impressionante ver tanta gente assim! Eu não entendo por quê, mas sempre via os rostos daquela multidão que surgia durante 1 dia apenas... Cheia de rostos tristes. Mal agradecidos! Não sabem como são felizes...

Certo dia, barulhos desconcertantes percorrem todas as celas.

A próxima seria a minha. E finalmente chega a vez.
A parede se rompe. Meus ouvidos começam à zumbir, tão intenso som que não ouço nem os gritos dos pequenos ratos, assustados.

Vejo um homem terrível apontar sobre a fumaça, não podia vê-lo direito apesar de tudo. Um dos bons homens que me cuidavam abre a porta do meu quarto. Desnumbrado, retira o seu quepe e me olha com um olhar que pela primeira vez me assustou. Aos poucos, conforme a luz entra no meu quarto, eu vi o quanto ele era sujo. E tanto pavor e uma só vez, me fez ilógicamente seguir o homem que despontava na fumaça.

Após algum tempo, descansamos. Seu rosto, suado. Eu, cansado. Nunca tinha feito tanto esforço. Era ridículo comparar o meu tamanho ao dele. Foi quando eu descobri que estava todo atrofiado.

Ele me perguntou meu nome. Não soube responder. Eu perguntei o seu. Disse que era irrelevante. Me perguntou se eu tinha algo para ajudar, eu disse que não. Eu fiz a mesma pergunta, e ele respondeu "Eu tenho esperança".

E aquela Luz que invadia pela janela nunca mais me cegou tanto, assim.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Versículos de Você I

A cabeça das pessoas é realmente fascinante. Ela sempre nos dá as soluções que nós insistimos em não enxergar. Eu sou assim. Vocês também. A maioria dos nossos defeitos são auto-solucionáveis, e não é necessário pensar muito pra resolvê-los. Mas exige muita da boa vontade da pessoa em querer mudar, o que o ego muitas vezes impede. Ego acomodado, esse nosso.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Não faz sentido

Sou estúpido
Troco realidade por meros pedaços de ilusão
Sou amargo
Já perdi a confiança nessas coisas que trazem felicidade
Sou egoísta
Olho muito para mim mesmo com um mundo todo afora
Sou insípido
Me preocupo tanto em não ser fútil que eu acabo sendo
Sou intragável
É quase impossível conviver com essas minhas manias

Sou ridículo
Sei que estarei feliz daqui a algum tempo

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Pedido

A força de desejo que arrebata a terra,
Que permanece nesse ego que erra,
E com um simples toque tudo se desfaz,
Minha alma devora com teu jeito voraz.