terça-feira, 16 de junho de 2009

Uma história que cabe em nós, I.

Desde que eu me lembro eu estive aprisionado - eu ouvia os presos das celas vizinhas sempre reclamarem da podridão daquele lugar, mas de alguma forma, me parecia confortante. Sempre duas vezes um senhor de mãos grandes depositava um prato de comida delicioso por debaixo da porta - as vezes caia alguma sujeira como mofo, nada que eu não pudesse retirar com as mãos; Esse senhor parecia ser muito agradável. Ele sempre vinha berrando para avisar que a comida estava chegando, afinal, quem não levantasse a portinhola ficaria sem. Eu nunca esquecia, afinal, aquele senhor gentil sempre me avisava. Eu não sei o que seria de mim sem ele pra me avisar - Eu sentia muita falta daquele prato delicioso.
Num período de alguns dias, os bons homens que cuidavam de nós costumavam nos liberar para fazermos um passeio pelo prédio. Ah, e como era imenso aquele lugar! Mal sabia eu por onde andar, tanta coisa pra ver! Uma luz brilhante que eu não indentificava evadia o lugar pelas janelas e me cegava - Os bons homens nos colocavam nos nossos quartos escuros para proteger nossos olhos indefesos. E era impressionante ver tanta gente assim! Eu não entendo por quê, mas sempre via os rostos daquela multidão que surgia durante 1 dia apenas... Cheia de rostos tristes. Mal agradecidos! Não sabem como são felizes...

Certo dia, barulhos desconcertantes percorrem todas as celas.

A próxima seria a minha. E finalmente chega a vez.
A parede se rompe. Meus ouvidos começam à zumbir, tão intenso som que não ouço nem os gritos dos pequenos ratos, assustados.

Vejo um homem terrível apontar sobre a fumaça, não podia vê-lo direito apesar de tudo. Um dos bons homens que me cuidavam abre a porta do meu quarto. Desnumbrado, retira o seu quepe e me olha com um olhar que pela primeira vez me assustou. Aos poucos, conforme a luz entra no meu quarto, eu vi o quanto ele era sujo. E tanto pavor e uma só vez, me fez ilógicamente seguir o homem que despontava na fumaça.

Após algum tempo, descansamos. Seu rosto, suado. Eu, cansado. Nunca tinha feito tanto esforço. Era ridículo comparar o meu tamanho ao dele. Foi quando eu descobri que estava todo atrofiado.

Ele me perguntou meu nome. Não soube responder. Eu perguntei o seu. Disse que era irrelevante. Me perguntou se eu tinha algo para ajudar, eu disse que não. Eu fiz a mesma pergunta, e ele respondeu "Eu tenho esperança".

E aquela Luz que invadia pela janela nunca mais me cegou tanto, assim.

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