domingo, 9 de agosto de 2009

Uma conversa entre amigos, VIII

Eu tentava dormir e a cabeça não cessava. Sophie era mais forte do que o meu sono. Eu não conseguia decifrar aquela sensação pérpetua que queria me manter ao lado dela. Era incrível como os traços do seu rosto eram viciantes de se recordar. Foi então que me levantei, andei um pouco e parei diante uma poça d'água. Eu via meu reflexo tremular entre suas ondas, e me sentia inseguro. Pois a queria para mim, e sabia que queria o que não poderia ter. Percebi então que definitivamente não dormiria essa noite.
E a minha cabeça ficou tão confusa quanto as ruas daquela cidade. Tanta coisa passava por ela ao mesmo tempo, esbarrando, mudando a trajetória do pensamento, perdendo o rumo da razão. E nesse bate bate empurra empurra, me lembrei daquele dia. A primeira coisa que me recordei foi a cegueira, a segunda foi aquele sufocante cheiro de fumaça. E a terceira, simplesmente apareceu do meu lado.
Entrei em choque. Estava ali, aquele homem, com uma cigarrete de tabaco mascado, sorridente, sujo de pó. Ele aproximou-se mais, deu um daqueles tapas nas costas de velho amigo, e sentou-se do meu lado. Então ele me indagou - E então menino, o que achou da vida real? - e respondendo com toda indignação - Eu achei confusa e ilógica. As pessoas são orgulhosas e esdrúxulas com seus olhares sentenciadores e tendenciosos. Tem tanto pudor quanto são vulgares, e ainda fazem da violência tanto física como psicológica a sua melhor forma de persuasão.

Ele riu. Suspirou um Ahhh bem profundo, e disse - Você já aprendeu muito inclusive para quem acabou de sair de uma prisão. Mas se não se sente feliz, à 2 quarteirões daqui estão alguns daqueles homens que te tratavam com carinho. Garanto que se você se entregar eles serão benevolentes. - quase engasgando com suas próprias gargalhadas.
Foi quando a razão se norteu e me fez dizer:
- Com toda certeza que eu tenho, não.

Então levantando-se, ele bagunçou o meu cabelo, e insinuou - Você já mordeu o fruto, pequeno Adão.

E quando olhei pra lá ele não estava mais lá.
Então eu parei pra pensar, e notei que aquele homem na verdade não poderia passar tanto tempo preocupado só comigo. Ele tinha seus objetivos e desejos, seja lá quem for.
Eu tinha conversado com a minha consciência.


E ela realmente me fez notar o que eu demorei tanto pra perceber.


2 comentários:

Kangoo From Pluto (: disse...

As vezes precisamos parar por alguns instantes, pensar, e conversar com nós mesmos para podermos entender o que realmente está acontecendo e achar o caminho certo, a solução correta para nossos conflitos.

Filipe F. Bonita disse...

gostei dos seus textos!! da uma passada la no blog!!
parabens =)